Novo Mundo: mera utopia ou possibilidade?

Por Magno Viana

“Pois bem, agora nós temos juventude e prosperidade até o fim…” (HUXLEY, Aldous, 1932, p. 357).

Na obra intitulada Admirável Mundo Novo, do escritor britânico Aldous Leonard Huxley, pode-se constatar uma concatenação narrativa, cujo ápice é a recriação do Universo com todos os integrantes, desde os humanos até os objetos inanimados, em uma estrutura ambiental e social dotada de liberdade, permissividade e busca acompanhada da efetiva satisfação dos desejos, sejam eles pessoais, profissionais ou sexuais.

Na frase que inicia o texto pode-se perceber a fala da personagem Mustafá Mond, na qual ela afirma que a independência fora alcançada pelo homem, mediante a evolução conquistada, por intermédio dos recursos tecnológicos. O conhecimento, a ciência, a prática e as ferramentas, no ponto de vista de Mond, fizeram do ser criado um criador.

Criador do seu próprio Deus, ou de uma forma particular de vê-lo e contatá-lo, recriador de si mesmo, pelo fato de programar um estilo de vida condicionado e condicionante, no qual ele pode realizar tudo o que pensar e quiser, enfim, o homem agora é capacitado para planejar, recriar e administrar um novo mundo. A vida passa a ser coordenada para proporcionar a felicidade plena aos humanos, por meio da quebra das limitações, como as regras religiosas e sociais, a velhice, o medo, a pobreza e a morte. Ao atingir esse estágio o Ser se completa e se apossa do cabal estado de contentamento.

Deus seria concebido de acordo com a imaginação e vivências de cada pessoa, o homem teria poderes que o igualaria a um Ser Supremo, a tecnologia é o recurso disponibilizado, aprimorado e utilizado para o êxito imbatível dos recentes todo-poderosos. Os quais podem ser considerados assim, por estarem em uma condição de vida nunca vista na trajetória dos habitantes da Terra.

O autor transita de forma gradativa pelas possibilidades de superação das criaturas, em capacidade evolutiva constante e ininterrupta. Prima pela inovação, programação e conservação em harmonia com um tipo específico de organização da sociedade em classes planejadas antecipadamente nas categorias: Superiores e Inferiores. A primeira é constituída daqueles que governarão. Que serão dotados de inteligência em maior grau. E a segunda é composta pelos servos, que por sua vez, serão desfavorecidos pelos atributos intelectuais e privilégios sociais.

Ao criar personagens projetadas para prefigurar um novo formato de planeta e em uma inusitada percepção de vida, Huxley acredita numa dimensão existencial que está além do até então experimentado no cotidiano e nos laboratórios de pesquisas científicas. Ele se posiciona na história como um mentor atuante na esfera da psicociência, ao recorrer à ciência para estudar e investir na alteração dos mecanismos humanos desde o físico até as características psicológicas. Ao mesmo tempo em que acompanha o desenvolvimento, como produto de sua interferência, e analisa o andamento do processo, para possíveis novas intervenções.

Diante do apontamento de parâmetros emergentes das cogitações e exposições de ideias de um aparente visionário, será que o leitor pode apostar na veracidade e possibilidade da concretização do mundo ilustrado pelo autor, ou precisa-se de certa precaução para não se navegar ingenuamente numa embarcação cujo destino não se desponta em distância alguma?